segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O QUE É QUE SE PODE FAZER PARA MELHORAR OS RESULTADOS ESCOLARES DOS ALUNOS

  1. A sociedade confronta-se actualmente com uma revolução electrónica/digital, que dá ao cidadão a possibilidade de assumir novos desempenhos, de ser mais participativo, gestor, produtor e dinamizador de espaços de informação e de conhecimento. Estas alterações impõem novos desafios a todos os sectores da sociedade e em especial à Educação. Por outro lado a Educação não se limita à transferência de conhecimento do professor para o aluno, a escola não é o único lugar de aprendizagem, ou seja uma parte considerável de aprendizagens significativas ocorre fora dela, informalmente, a sociedade influencia fortemente os processos de desenvolvimento das crianças e jovens e a escola de hoje, por não ser suficiente para corresponder às solicitações actuais, deve ser reequacionada no âmbito da Sociedade de Informação e Comunicação. Muitas crianças de hoje, nascem e desenvolvem-se rodeadas de novas tecnologias e acedem com relativa facilidade a uma grande variedade de recursos tecnológicos que começam gradualmente a dominar. Mais tarde, a escola terá de ter um papel de promoção de saberes, orientações e competências-chave para que estas mesmas crianças e aquelas que não tiveram a mesma possibilidade de acessos aos referidos recursos tecnológicos (e que também ainda são muitas), se possam desenvolver normalmente no quadro social que as envolve. As TIC facultam a ligação e a dinâmica entre alunos, conteúdos e professores proporcionando experiências inovadoras e enriquecedoras e renovam os tradicionais papéis que têm vindo a ser assumidos por cada uma das três partes. Desta forma, torna-se necessário que todos os educadores e professores, desenvolvam durante a sua actividade profissional, competências para utilizar as tecnologias educativas como suporte à utilização das TIC no processo de ensino/aprendizagem e na partilha das suas experiências educativas.

  2. Não é difícil estar convicto de que a educação é a base da sociedade. É necessário boa educação para se atingir patamares sociais compatíveis com as exigências actuais, em termos intelectuais, morais, técnicos, científicos, produtivos e competitivos, capazes de proporcionar a todos e a cada um de nós os meios necessários para boa integração social e bem estar geral, reflectidos em contributo activo na construção da mesma sociedade e em qualidade de vida. São ainda muitas as limitações para que a educação se desenvolva de forma capaz. Enquanto problemas primários não forem resolvidos, não podemos ambicionar alterações significativas na matriz global da sociedade portuguesa e não é razoável falar de desenvolvimento e de criação de riqueza suficiente para que as pessoas possam usufruir de padrões de integração social e de níveis de qualidade de vida razoáveis. Refiro-me a problemas que deveriam começar a ser resolvidos em casa, da responsabilidade da família, dos pais, dos encarregados de educação dos jovens estudantes, consistindo no apoio sistemático à sua auto-estima. Ajudar o jovem a gostar de si próprio é meio caminho andado para a sua felicidade. No entanto este aspecto é bastante descuidado, ao ponto de uma parte considerável dos jovens não acreditarem nas suas capacidades, viverem centrados nas suas dificuldades e terem baixas expectativas, o que os leva a obter baixos resultados nas tarefas escolares. Muitos jovens estão expostos a ambientes socioeconómicos e sócioemocionais muito desfavoráveis. Não podem ter um percurso normal, estando portanto sujeitos a elevado risco de experimentar insucesso escolar por exemplo, os alunos que vivem em condições habitacionais degradadas e no seio de famílias completamente desestruturadas. Até que a sociedade evolua e as famílias sejam educadas por forma a serem capazes de assumir, com autonomia, as funções primárias de apoio aos seus jovens estudantes, há que tomar medidas enérgicas que tendam a alterar rapidamente esta situação. Que seja o Estado a tomar medidas nesta área, encontrando os parceiros adequados para realizar acções concertadas para formação contínua das famílias e para apoio dos jovens. Há até quem defenda a criação de cooperativas ou sociedades de jovens licenciados, habilitados para serem professores, que não conseguem colocações nas escolas, como forma de combater o insucesso escolar, mediante celebração de acordos com autarquias e escolas. Alguma coisa tem de ser feito! Há muitos diagnósticos, todos sabem que a Educação vai mal, mas as boas medidas escasseiam para alterar, com eficácia, o mau estado das coisas.

  3. Refiro-me também às escolas de todos os níveis de ensino, que têm de se reorganizar urgentemente para dar a cada aluno a possibilidade de desenvolver as suas áreas fortes, as áreas para as quais manifesta mais aptidões e nas quais se poderá sentir um cidadão mais válido e capaz, no sentido da sua realização pessoal e profissional. Para isto, as escolas têm de se apetrechar com recursos humanos e materiais, têm de estar na vanguarda, em contacto directo com o que de melhor se faz nos diversos sectores da sociedade civil, com enfoque especial nos meios de produção de bens e serviços e na utilização de tecnologias inovadoras, sejam tecnologias de informação e comunicação ou outras, e não na retaguarda, à espera de “migalhas” para funcionar.

  4. Por outro lado, só professores motivados, dignificados na sua profissão e competentes na sua acção, poderão ajudar a alterar a situação grave que se vive na Educação. É necessário que cada professor conheça bem os seus alunos e a si próprio. Precisa de estar consciente da dinâmica das relações interpessoais (aluno-aluno, aluno-professor, professor-aluno) e de estar atento à adequação das actividades que propõe, relativamente à diversidade dos alunos da turma e ao apetrechamento das salas com recursos materiais.

  5. Os novos desafios que a escola enfrenta não podem ser resolvidos pela exclusão dos sectores mais desfavorecidos da sociedade. É preciso procurar respostas que passam pela criação de melhores condições nas escolas, pela formação inicial e contínua dos professores, não uma formação qualquer para obter uns créditos para progressão na carreira, mas uma formação permanente, objectiva, direccionada para a acção pedagógica efectiva e para a inovação no ensino, por forma a que cada professor possa munir-se dos meios que possam proporcionar atmosferas positivas e ricas na sala de aula.

  6. É com esta dinâmica que se ultrapassam problemas e se impede que muitos outros surjam e se tenham de resolver. Dinâmicas positivas geram dinâmicas positivas capazes de resultados de crescimento exponencial. Há necessidade de “abanar” o sistema educativo português e partir para o futuro com confiança e determinação, fazendo uso das capacidades de todos os agentes envolvidos.

  7. Com a experiência colhida ano após ano, dia após dia, reforço a minha convicção de que a educação falha nos conteúdos técnico-científicos e que o insucesso escolar não se resolve só pelo aumento da qualidade da pedagogia, da forma de ensino. Poderá ser minorada, mas o problema não se reduz nessa dimensão e é necessário apostar essencialmente nos conteúdos científicos e facultar aos professores a possibilidade de realizar permanentemente investigação na área da física moderna e das novas tecnologias de informação e comunicação. Ao ensinar-se matérias mais actuais e avançadas, certamente haverá maior motivação dos alunos.

Novas Tecnologias na Educação - Reportagem SIC - Jornal da Noite de 20 de Janeiro 2008

Sem comentários: